sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Juntos


Se o dia não voltar
E a noite for incerta
Eu iluminarei tua vida
Por esta estrada deserta

Se a voz não voltar
Para cantar a canção desejada
Eu escreverei nova música
Que te traga a madrugada

Quando a luz despoletar
Do horizonte de meu olhar
Estarás aqui ao meu lado
Para assim me abraçar

Quando o calor aquecer
Em luz nosso semblante
Não esquecerás o momento
Em que seguiste adiante 

E se tudo mover
As plataformas da vida
Tu manterás firme a vontade
Como a alma ressurgida 

E assim estarás tu
Aqui à minha beira!

H.N

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Mar e areia

Nesse mar meu nome
Escrito à beira sal
Nesse mar passado
Meu sonho, vendaval
De onde somos nós
Nesta lonjura insana
Para sentir tua força
Numa sina que não engana
E assim somos o norte
Que no sul se faz poente
E sem rumo este barco
Se desmerece demente
Na mais dura rocha
Que despedaça o casco
Que se mostra rígido
Numa afronta de asco 
Enquanto a espuma cobre
Seus pedaços destroçados
Pela força da ondulação
Pelas vagas amaldiçoado
É essa o final, navegante!
Esse fim! no teu mar!
Morrer onde tudo já foi
Onde tanto foste buscar
E sem piedade acaba assim
Tudo em lascas na areia
Espalhados pela bravura 
Encantados pela sereia!

H.N


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Brecha



Entre brechas abertas
Passa um pouco do nada
Que chega quando a noite 
É vencida pela madrugada

As brechas pelas quais
Já nunca pude ver o mar
Mas que lá ás vezes
Consigo compreender um luar

Esses pequenos horizontes
Pelos quais entra a claridade
No meu estar de demência
Num refúgio de crueldade

Onde ouço alguém passar
Onde sinto algo correr
Vendo uma silhueta
Enquanto tento adormecer

São as brechas de mim
Por onde posso ainda ver
A lonjura desta voz
Que me tenta socorrer

H.N

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Fogo

Na confusão do pensamento
Na distração do prazer
Quebrar esta barreira
Que me tenta deter
Na tortura do carnal
No sentido mais desgraçado
Num sentimento desigual
De sentir-se atolado 
Num murmúrio da razão
Num grito irracional
Entre o fogo da paixão
E a força imoral
Entre o medo do saber
E a força que me prende
Procura não morrer
Na chama que se acende
Neste fogo que arde
Nestas palavras que grito
Num sentido de pensar
Num escrever aflito
Nesta vontade do nada
Neste perder de tudo
Há quem fale sem saber
Há quem sem saber seja mudo
E assim estamos nós
Nesta sensação de pensar
Só sei que estas palavras
Teima em não acabar.

H.N


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Num sentido cativante


Escrever as alturas
Entre asas de metal
Escrever as lonjuras
De um país Portugal
Escrever tão profundo
Quanto a altura que estou
Estar neste mundo
Não sabe o que sou
A altura do imutável
A profundidade do sonho
Sem ter um poder inalterável 
De um dia novo e risonho
Na instabilidade do humano
Na força do engenho
Lutamos com o desengano
Com garra e empenho
A guerra que do ar
Laceram as entranhas da nação
Faz parecer que o mar
Só nos embala os corações
Força das gentes que trabalham
A terra dura e sequia 
Fazendo parecer que a sorte
Pode gerar poesia
E assim é um país 
Repleto de gente pensante
Que é inspirada por Deus
Num sentido cativante.

H.N

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Trovão


Radiante a tua luz
Marco do céu flamejante
Tão poderosa tua força
Que descarregas pujante
Intensa tua claridade
Que em segundos se desfaz
Faz parecer que ao teu lado
Sou um pobre incapaz
Estamos à tua mercê
Baixo teu domínio e reinado
És a força que todo rei
Quer ter e dominar
Zeus te dominou
Platão te descreveu
A física te desvenda
Eu te vejo tão leve
Tão súbito teu chegar
Tão rigorosa tua presença
Sem deixar de notar
Que és cruel sentença
Em clarão fazes dia
A noite mais obscura
Em energia fazes fogo
Queimando até a amargura

H.N

Relógio



A hora passa
Passa a correr
Por mim passas tu  
E eu sem saber
O ponteiro dos segundos
Corre contra o passado
O meu coração bate
Como louco amaldiçoado 
Os minutos esperam 
O longo ponteiro a passar
Para chegar a ti
Para poder-te amar
Entre as horas e os dias
Muitas voltas, entre a luz
Não te cansas de dar voltas
Será essa tua cruz
São tantas essas voltas
Em ponteiros enlouquecidos
Que levaram num futuro
A que eu seja esquecido
E nesse andamento pulsante
De quartzo e mecanismo
Que se perde o sentimento
Até mesmo o egoísmo
E assim passas tu e eu
E acabamos passando todos
Seja em boas maneiras
Ou talvez de maus modos.
E assim passas sempre
Nesse passar controlado
Quando acabar teu passar
Já não estarei ao teu lado.

H.N.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Negro Asfalto

Neste mundo de loucos 
Que andam pela vida sem saber
O que é o sentir, o querer
E não são esses tão poucos

Neste gritar calado que ouço 
De tantos que em trevas
Nesse teu mar onde levas
E prendes as almas ao calabouço

Tão fartos de seguir em frente
De não poder mudar a rota
Não ser da árvore a nova fruta
E da religião um crente

Na vertigem de subir alto
Tão alto que é ser feliz
Qual voo de perdiz
Nesse medo de negro asfalto

H.N




domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sentado


Sentado aqui estou
Sou um pouco de mim
Sou um pouco de tudo
E enquanto me iludo
Faço pensar num fim
Do caminho onde vou

E assim reflito a vida
Que nem sei bem qual a razão
Desta espera que exige
Que fale a quem dirige 
As rédeas do coração
Que me deixa de alma despida

Nesta presença sentada
Que denota o presente
Em riscos num papel qualquer
E tenta num perpétuo querer
Recordar quem está ausente
E quem encontrou por essa estrada

E é nesta sensação de pensar
Que crescem as certezas 
Mais constantes e evolutivas
Das vidas mais completas, vividas
Que não são feitas de riquezas
Mas de um continuo amar

H.N

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Alma Nua



Numa alma nua, despida
No meio da multidão
Sem pensar que de coração
É a alma vestida
E que nesse órgão de potência
Que se encontra o movimento
Que permite seguir o vento
E criar assim a ciência

Sem qualquer sinal de dor
Sem qualquer marca de tumulto
Parecendo enfrentar o culto
Que te martiriza em terror
E assim se faz valer
A alma mais desnuda 
Que venha Deus e me acuda
Que eu continuo sem saber

Saber qual a verdade e razão
Pela qual não podemos querer
Sem barreiras de poder
Que nos nublem o coração
Que nos limitem o pensamento
Reduzindo assim a liberdade
Retirando-nos a integridade
Que se cansa em contante intento

Não limites mais em alma
O que de ti não quer ser
Pois podes padecer
E assim perder a calma
Essa que é o pilar primordial
E que vem com a abertura
A ciência e a lonjura
Fazendo o amor o principal!

H.N

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Cúpula de vidro


Na cúpula de vidro
Onde a chuva bate severa
Nesta estrutura bem firme
De presença altiva, guerreira

Essa altura de estrelas
Por onde entra o sol
Forma de cristal, assim
Qual concha de caracol

Nesse trespassar de raios
Que fazem da luz cor
Que preenchem este lugar
Fazendo de mim o calor

Daqui vejo o céu tão azul
De transparência tão voluta
De quem está aqui sentado
E sempre atento à escuta

Escuta do termo da escrita
Que se transforma em poema
O que permite escrever a lei
Que se transforma em dilema.

Dás-me o brilho do sol
E a imensidão das estrelas
E do mundo outra visão
Das coisas, essas, tão belas!

H.N

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Caixa de alma


A minha saudável loucura
É a desmedida de tantos
É um eliminar de dores
Que se escondem nos cantos

Nos cantos da alma
Quadrado, cubo imenso
Onde cabe tanta coisa
Num sentido intenso

Esse cofre sem chave
Essa caixa de pandora
Onde se guarda o melhor e pior
A escura noite e a mais bela aurora

Somos feitos da mesma essência 
Que preenche o infinito
Com sentido de felicidade 
Ou de tristezas, conflito

Nesse cofre de aço e algodão
Onde se guarda com ódio e carinho
A sensação do querer profundo
O de um estar pobre e sozinho.

H.N

Luz


Luz da lua, crua, clara
Cor de mim, viva, rara
No percurso repetido
Conviver forte, confidente, companheiro
Beleza plena ou maquilhada a dinheiro
Onde se apaga o que foi vivido

Nesta mesa, local, universo
Que se cria, livre, intenso
De estar aqui ou sonhar
Coisas belas, imensas, perfeitas
Ou de desgraçados, sociedade desfeitas
Que tentam encontrar seu luar

Nos conselhos, princípios, normas
Que se mostram das mais diversas formas
E se moldam ao presente
Com plasticidade, adaptação  
E se manifestam qual religião
Absorvendo até ao descrente 

Ideias de faca e navalha
Desse sentido fraco, canalha
Pelo qual não sabes seguir
Mudar a rota, o percurso
Que se mostra corrente, qual fluxo
Do qual não podes fugir

H.N.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Ser assim!


Porque será que a humanidade não entende
O que um poeta em palavras pretende
E qual o seu estado de pedir
E nessa incompreensão fica abandonado 
Num canto qualquer fica deixado
Enquanto não consigo fugir

Fugir da desventura que carrego
A presença eterna de um luar
Que a noite dá às caras
E nesta sentença faz saber
Que mesmo assim não vai morrer
Pelas suas vontades raras

Não é dependência de amor
Nem de um corpo o calor
Que o torna mais delírio 
Neste correr de água clara
Que neste correr se declara
Caindo qual cera num sírio

Não grites ao meu semblante
Esse corpo sempre andante
Que em calor faz movimento
Pois a sua sorte foi ditada
Pelo caminho, pela estrada
 Que não acaba no intento.

H.N.

Alma poeta



Eu receio a sorte, o futuro
Deste escrever tão inseguro
De um poeta de coração
Que chora e ri sem saber
Se a felicidade é querer
O bem de toda a vastidão

E é tão louco este sentir
Que se mostra de ser despido
E nem sabe onde achará
Onde em percurso será deixado
Se ao morrer fica finalizado
O que agora começará

Não sei se é escrita ou loucura
Se dá amor ou ternura
E num estado de letargia
Que se apresenta sempre eterno
Como desgraça, como inferno
Num feitiço, numa magia

Para ser franco nem quero saber
Se sou poeta, se vou perder
A guerra com a minha sorte
Que não depende da esperança
De receber a velha herança
E dos poetas o destino da morte.

H.N.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Torre de Cristal



No alto da torre de cristal
Está a frágil presença do Deus
Que na sua majestosa imponência 
Faz pensar que a ciência
Torna os descrentes e ateus
Num campo seco, trigal 

Onde tudo tão seco em pó
Faz pensar que já não cresce nada
Numa alma descrente e desprovida
De uma sensação apaixonada
Sem qualquer sentido de só

Nessa montanha tão branca
Onde o frio é maior que tudo
E num ar tão rarefeito
Não encontro o defeito
Deste sentido tão mudo
Que me move qual alavanca

Onde a neve tão clara
De leveza tão singela
Seja a que cobre meu sentido
E proteja qual capela
Meu santo, coisa rara.

H.N

Vida de Peixe

Peixe que nadas no teu limite
Que navegas sem barco
Que percorres esse cubículo
A quem chamam charco

Tu que nessa esperança
Tão de viver limitada
Não rogas em crença a mim
Nem a Deus, nem a nada 

Nesse teu nadar limitado
Que percorre qualquer lado
Faz de ti o pequeno navegante
Que faz deste mundo intrigante 

Nesta sentença de lugar pequeno
Onde vives um viver pleno
De complexa entra a simples sensação
Que preenchem esse estranho coração

Que nem sabe quão limitado vive
Num espaço confinado pela minha alma
Que em tentativa de encontrar a calma
Aqui a olhar para ti estive. 

H.N


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Tocar-te



Deixa-me tocar teus cabelos
Escuros como o profundo mar
Num perfume tão suave
Que só eu posso apreciar

Deixa que olhe esses olhos
Onde me perco sem saber
Porque esse castanho infinito
É onde me quero perder

Quero tocar essa pele
Tão suave qual ceda rara
E perder-me em teu sentir
Enquanto olho tua cara

Esse sorriso que faz luz
Essa face alva qual pintura
Que fazem a minha felicidade
E são a minha ventura

Vou correr para teus braços
Mal te veja chegar a mim
Para poder sentir-te
E colocar à saudade um fim.

H.N

Entras sem aviso!


Pobres os que de seu nome
Se deixaram derrotar por ti
Tu, só tu, tão cruel e fugaz
Que vens e vais sem dar a ninguém
Explicações do porquê e do quando
Sem saber qual a razão
Que entras sem bater à porta
Sem dar qualquer aviso de chegada
E quando despertamos aquele dia
Já estamos derrotados
Já nem sabemos mais que fazer
Estamos presos a algo
Sem forma, nem cor, nem rosto
Mas que em materialização
Em rosto e cor nos sorri
Com aquele sorriso quente
Aquele que em balas nos fere
E deixa tão desarmados
Sem palavras ou argumentos
E assim és tu guerra de coração
Que feres e matas mais gente
Que qualquer guerra de rancor
E assim és tu!
Mas tão rápido chegas como vais
E deixas em pó um algo
Que já um património meu
Tão meu que em louvor
Já nada posso fazer para recuperar.

H.N

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Adaptação

Adaptação numa mudança
Que se mostra tão complicada
Com pedaços de nós sem esperança
Que se mostra penosa, desleixada
Como negação da herança

De ter de sair, de abandonar
O lugar onde estamos seguros
E enfrentar um negro mar
De pesadelos sem cor, escuros
Que me tentam derrotar

Mas é enfrentar ou cair
Num desânimo tão gelado 
De onde não consegues sair
E neste viver desleixado
Tentar correr, fugir

Mas deixar-nos ficar não é opção
Não nos é permitido desertar
Nem tirar a toalha ao chão
Pois ainda estamos a começar
Nesta luta de dor e paixão.

H.N


Batalha


Uma guerra sem princípios
Uma batalha sem batedor
Um murmúrio de dor e morte
Movimentado pelo rancor 

Um suplico de multidões
Entre espadas de vocábulos 
Num fogo cruzado de argumentos
Que não saem dos corações

E entre o sangue derramado 
E as crianças sem família
Existem desgraças sem fim
Que persistem à tua vigília

Num poder de armas e aço
Que desbravam a imensidão
Num correr de corpos mortos
Que se dispõem no teu regaço

Nestes pedaços espalhados
Que são restos de um todo
Que se dispersam neste mar
Negro e denegrido de lodo

Neste confronto indecente 
Mais importante que a vida
Tudo passa sem saber
O que é passado e presente.

H.N

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sem saber


Sou luz na noite
Sou escuridão no dia
Sou o que quero ser
Sou a crua melodia
Para ser nome de gente
Foi criado em dureza
E teu nome sei eu bem
És a rainha riqueza
Não sei se estou aqui
Ou se já foi levado
Taparam-me os olhos
Para não ver o passado
Foi lembrança da tua vida
Foi vontade do teu querer
E em lonjura vadia
Acabas por me perder
Procuras-me e não encontras
Encontras e nem procuras
Pensar saber quem sou
Sou tumulto e amargura
Sou da noite um filho
E do dia enteado
E sei que essa criatura
Que esta sempre ao teu lado
Faz tanta troça de mim
Faz tanta troça do perdão
Mas um dia encontraras
Quem te roube o coração
Nem sei a quem escreve
Nem sei bem de que falo
Mas uma coisa eu sei bem
Por esta luta não me calo.

H.N


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Só eu sei

Quem faz parte de mim
Só eu sei em segredo
Não porque eu tenha medo
Não intendam assim

Pois cada um tem de guardar
O que mais presa e ama
Pois não quere ver na lama
O que custou a ganhar

E segredo e loucura
Ou vontade de criar
Uma suspeita no olhar
De quem tudo procura

Procura saber tanto 
Da vida alheia 
Que se torna areia 
Perdida em qualquer canto

E sem se aperceber
Não cuidou da sua vida
E se encontra perdida
Sem nada saber

Já nem sabe de si
Nem da sua própria sorte
Terá medo da morte
Não sei eu aqui!

H.N


Vendaval

Qual vendaval que extrai 
Do chão a árvore mais expansiva 
Que sem marcas de idade
Entre murmúrios de irrealidade
Numa sonoridade alusiva 
De um sentir que se desvai

E sem perceber a razão
Deste vento que leva tudo
Numa fria realidade
Entre a crua impiedade
Levando num som mudo
A própria alma em coração

E assim penteia as encostas
E molda a sua passagem
Um mundo ao seu prazer
Mas quem poderia dizer
Que tal tormenta era aragem 
E de sentimentos eram compostas

As ventanias que me abalam 
E que tiram de mim sentido
E sem dar pelos acontecimentos
As brisas viram tormentos
E tudo fica despido
Nas correntes que embalam.

Embalam o arvoredo  
Num embalar sem igual
E quem diria que era vento
Esse que em ressentimento
Colocou um final
A este louco enredo.

H.N