terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Sol Nascente

Um dia serei o sol nascente
Que ilumine tua vida em imensidão
Serei a luz quente da manhã 
Que te livre da solidão
Serei um raio tão claro, tão leve
Que em sombras se desfaz
E sentiras minha força
Saberás o que serei capaz
Agora brilho em paz e força
Que me trouxe um dia novo
Vou gritar por todo lado
Serei a nova voz do povo
A minha vida está tão calma
Como o rio manso em voz
E minha alma apaziguada
Desagua na longínqua foz
Belas as palavras que são
O refúgio de um coração
Que se faz maior com a dor
Que transforma rancor em canção!
Luz nova, luz tão nobre
Brilhas entre as ondas do mar
Enches de calor o meu dia
E de força meu lar!

H.N

Luz


Entre essa luz tão clara
Quero ser luz, quero perder-me
Quero esvair-me em água 
Num pedir de querer-me
Entre a natureza mais viva
Mais verdejante e imponente
Querer ser terra tão negra
De lava em ser inclemente
Dos ventos e da brisa do mar
Do pó do tempo mais longe
Tornar-me luz em brilho forte
E num refúgio ser um monge
Ermita natural qual galho
Que cresce em direção ao céu
Num tule de folhas soltas
Qual promitente e sublime véu
Que segue o brilho das horas
Que segue do fogo o rumo
Que arde e lavra dentro de mim
E se espalha qual branco fumo
É neste tão natural sentir
Onde me quero perder
Para morrer em vida e luz
Para de seguida renascer!

H.N.

Crónicas de um doido: Amizade

Amigos!


Os amigos são por definição, pessoas com as quais tens um relacionamento

afectivo. Pessoas que podem tornar-se importantes, e que te podem apoiar nos

momentos mais difíceis, aquele que te aceita tal como és, tal como pensas e lidas

com a vida. Os amigos normalmente não têm qualquer laço parental ou familiar,

mas mesmo sem existir esse laço, que existe desde o nascimento, eles estão ali,

ao teu lado. Estão ao teu lado nas horas boas e más, em todos os momentos. Isto

seria uma definição de amigo. É claro que amigo, não significa estar sempre ao

teu lado, significa que a pessoa mesmo estando longe se lembra de ti ou fala de

ti como se estivessem juntos, que se lembra das datas importantes. Não é

necessário estar sempre contigo ou contactar-te a toda hora, mas sim, ser

aquele que quando estás em baixo dá-te uma palavra de consolo, quanto estás

doente manda um cartão ou uma mensagem de melhoras. Aquele que fala contigo

quando estás sozinho e foste abandonado pelos falsos amigos. É claro que nem

sempre sabemos como os nossos amigos estão, como se sentem e o que acontece com

eles, mas basta que por vezes tentemos saber deles. Sabemos que durante a nossa

vida por vezes falta tempo, mas por vezes temos que tirar tempo para as

pequenas coisas, como um olá a um amigo, mantendo assim acesa a amizade.

Esta seria a visão perfeita, mas o amigo ideal e perfeito não existe,

pois temos de nos contentar com os que existem, uns mais perfeitos que outros,

mais ou menos atenciosos. Temos aqueles que se lembram de ti muitas vezes, e

aqueles que se lembram de ti uma vez ao ano. Os que se lembram de ti quando

precisam de ti, quando precisam de um favor e os que se lembram de ti quando

não podes estar perto. No mundo das amizades existem tantos exemplos que é

difícil saber quando se pode considerar que uma pessoa é tua amiga ou apenas um

colega de trabalho. Por vezes as amizades são meras alianças estratégicas ou

apenas relações oportunistas. Parece que algumas amizades dependem do que temos

para dar, os bens económicos que possuímos, os amigos influentes que já temos,

ou nossa própria influência num determinado meio. Outras amizades ainda que

raras, dependem de sentimentos mais profundos e interiores, sentimentos de

irmandade e respeito. Estas são as amizades mais puras, que persistem pela vida

fora, mesmo quando a geografia os separa. Essas amizades são difíceis de

encontrar, mas cada um de nós, pelo menos uma vez na vida cruza-se com um bom

amigo, tocando agora a cada um de nós manter essas amizades. A falha nas

amizades não dependem só dos outros, mas dependem também das nossas atitudes,

depende também de sermos nós a dar o braço a torcer. Depende de seres tu a

contactar primeiro os teus amigos, em vez de esperares que te contactem. Temos

de ser nós por vezes a dar o primeiro passo para perpetuar uma amizade. Mas

mesmo sendo tu a dares o primeiro passo existem amizades sem futuro, estas

amizades sugam-te a alma, fazem-te mal, trazem preocupações desnecessárias, e

mesmo que tudo faças não consegues salvá-las e estas morrem, e depois descobres

que muito tempo jogaste fora a dar importância a uma pessoa que não merecia

nenhum esforço. Percebes que investiste numa amizade sem frutos, mas tens de

pensar que tudo na vida tem um significado e uma razão, pelo menos fica uma

experiência que te torna mais forte e mais sábio, e é isto que faz de nós

humanos. Como dizia alguém, “as amizades são como as rosas, têm de ser regadas

e cuidadas senão elas murcham e morrem”.



Hector Nunes


27 de Julho de 2011


Passo do Tempo




Tempo que passa dia atrás dia
Movimento perpétuo do ponteiro
Que em circular filosofia
Faz cada segundo o derradeiro
Dia atrás dia tantos crescem
Entre os tumultos da vida
Anos em que gentes padecem
Males da desgraça desmedida
Outros com sorte são brindados
Em dias calmos que são mansidão
Entre os sós e os apaixonados
Que fazem do ano recordação
Horas de saudade e de sentimento
Dias preenchidos em atividade
Uns se alimentam de ressentimentos
E outros cultivam novas realidades
Esse tempo que passa para todos
Num passar sempre tão certeiro
Há quem passe mais tempo neste mundo
Outros que seu tempo é derradeiro
Mas assim os anos passam
Deixando cada um com seu sinal
Criando histórias das mais diversas
Com seu carácter original
Há um dia em que mais que nos outros
Essa passagem é mais sentida
Último dia de cada ano
Uma saudade tão vivida

H.N

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ventania

O vento sopra, murmura
Qual morte que chega tão perto
O medo percorre este corpo
Já pálido deste confronto

Ele em voz grave, fala e grita
Tanta desgraça, tanto devaneio
E não me deixa dormir em tormenta
Abala alicerces do pensamento

Num ato desesperado
Irrompo a madrugada fria
Sem saber que já me espera
Na encruzilhada da lonjura

Nada sabe ele de mim!
Tudo sabe ele, talvez!
Mas que posso eu fazer
Só me toca a mim fugir

H.N.

Carta lançada



O cerco está a fechar
Os dados estão lançados
As cartas se conjugam nesta mesa
Julgamento dos desenganados

Se debatem os erros, as falhas
Se desvendam as verdades mais cruas
Num desbravar de razões
Destroem-se casas e ruas

Escrevem-se infindáveis listas
De falhas e más atitudes
Mas nunca se olha para trás
Para as mais simples virtudes

Rasgam-se fotos e diários
Queimam-se recordações e vontades
Entre o delírio do julgamento
Pulveriza-se cruas realidades

Entre as folhas que ficam
Revemos pecados e historias
Tudo aquilo que foste
Passado, presente em memória

Nada de irreal é o ser imperfeito
Tudo de verdade é o teu sentir
Por ti eu daria a vida
Por ti eu iria fugir

H.N

Caminhos - Solidão

Num mundo tão individual, a solidão é rainha e toma cada pedaço do ser, transformando tudo em arrido decerto

Movimento

Os movimentos perpétuos da vida
A chegada dos longínquos
E dos de perto a partida
Num fluxo tão migratório
De seres que fazem parte
Do mais musical em ti
Da poesia, da pintura, da arte
Num ilusório passado, num presente
Que roga a um entrar e sair
De personagens sem igual
Onde todos podem sentir
Este esvoaçar de passageira sentença
A que fomos submetidos pela vida
Ilusório, real ou mera miragem
Que modela como vento a paisagem
Ruas que são marcas desse desaire
Ou talvez virtude de tal passar
Cada um deixa sua marca na rocha
Cada um não se pode abandonar
Da sua responsável etapa
Que é este passar tão leve
Uns são breves e sem marca
Diluindo-se como a branca neve
Outros moldam as passagens
Dos seus seguidores e descendentes
Ficando cravados nos livros da vida
Como mastros levedos, imponentes
Cada um tem sua passagem
Cada um deixa seu traço
Da forma mais singela
Ou num apertado laço

H.N

Eu e a loucura

Eu que entre as loucuras
Falo de tanto e de nada
E sem saber porque me encontro
Sozinho nesta madrugada

Talvez um louco em delírio
Ou desventurado na ilusão
Sou eu, ser sem nome nem rosto
Madrugada, morte e solidão

Besta bravia e galopante
Que num puro deleito diz querer
A dor arrancar deste corpo
E no alto desta escada se perder

Breve abalo do conceito
Que marca o movimentar deste navio
Que navega perdido em águas mansas
Nem saber se é mar ou o rio

Rasgos cortes e talhadas
Que retiram cada parte putrefacta
Desta alma fria, crucificada
Numa cruz de pedra intacta 

H.N